Com a popularização do celular, os formatos das mídias estão mudando e algumas pessoas especulam que a TV e o cinema também serão afetados por essa nova onda do formato vertical.
Pesquisas recentes da agência americana We Are Social, revelam que 51,4% dos acessos à internet entre abril e junho de 2017, foram feitos pelo celular. Essa mudança começou em 2016, quando o celular desbancou os desktops e laptops. Estudos da divisão inglesa da consultoria Deloitte informam que 68% das pessoas usam o celular enquanto jantam, 80% durante conversas com amigos e 81% na frente da TV. Com isso, o uso traz uma modificação no modo como as pessoas produzem e exibem vídeos, que eram, na maioria das vezes, feitos na horizontal.
A primeira característica dessa mudança é na parte estética, como em vídeos e fotos. No celular é bem comum o uso na vertical, os usuários normalmente tem o aparelho dessa forma durante 94% do tempo. Convencionou-se chamar de modo retrato as fotos feitas nesse formato. E acontece que na industria do audiovisual prevalece o uso da imagem na horizontal, o que gera uma certa polêmica entre qual formato é o certo. Apesar disso, profissionais afirmam que aplicativos e redes sociais são os principais responsáveis por essa transformação e que a transição será gradual.

O fundador e CEO do Snapchat, Evan Spiegel foi quem deu o primeiro passo e saiu em defesa do formato de vídeos na vertical, afirmando que o nível de visualizações e curtidas era nove vezes maior do que os modelos na horizontal. O aplicativo que Spiegel criou tem cerca de 10 bilhões de visualizações por dia.
A indústria do cinema e da TV não compartilham da mesma opinião, mas começaram a surgir festivais de filmes especificamente verticais. Já com duas edições (2014 e 2016), o Vertical Film Festival (VFF) é um evento australiano que brinca com essa ideia de que as pessoas, supostamente, estão gravando errado.

Levando em consideração essas opiniões contraditórias que ainda prevalecem, resolvemos conversar sobre o assunto com os professores de Comunicação Social que trabalham com a imagem. A professora de Fotografia Zanete Dadalto, professor de Linguagem Audiovisual William de Oliveira e o professor de Produção e Direção de Audiovisual Felipe Dall’Orto.

A professora Zanete afirma que no caso da fotografia sempre teve horizontal e vertical. O vídeo, que tradicionalmente é na horizontal por conta do cinema, que tem a tela de projeção nesse formato. E que a forma de produzir imagem está diretamente ligado a experiência e vivência de cada um. Hoje em dia as pessoas procuram o formato vertical no celular por conta da selfie, na qual conseguem se ver integralmente na tela do smartphone. Disse também, que provavelmente o cinema e a TV terão que se reinventar, pois os jovens de hoje dão preferência para assistir vídeos e filmes no celular.
Quando você quer produz imagem, não tem certo e errado. Quando quer comunicar algo, vale tudo, o que importa é a expressividade. O digital hoje não diz que tem que ser na horizontal, abre espaço para o formato que preferir”, contou a professora.

Já o professor William acredita que o celular influencia exclusivamente na preferências de fotos e vídeos na vertical, mas que o problema é quando você converge as mídias, as que foram produzidas na vertical só cabem no celular, não tem serventia em uma televisão de tela plana. A imagem na vertical veio para atender uma linguagem muito própria, como a linguagem interpessoal. Há quem defenda fazer filmes nesse formato, mas William, além de achar que ainda terá muitas discussões sobre o assunto, se sente incomodado pois o formato horizontal acompanha o olhar humano e é possível passar mais informações, ao contrario da vertical onde a imagem fica mais limitada.
A partir do momento que eu digo que vou fazer cinema, que vou produzir filmes e gerar conteúdos com essa visão vertical, me incomoda profundamente. Talvez as novas gerações se adaptem a isso. Porque é olhar o mundo de outra forma, no meu ponto de vista, uma forma extremamente singular e reduzida. Gosto mais da imagem ampla e abrangente”, declara o professor.

O professor Felipe concorda que o celular influencia nessa mudança, que é um novo olhar que estamos sendo condicionados porque até então era a tela de TV que ditava a norma. Apesar de gostar muito do formato tradicional, ele acredita que tem espaço para os dois e que depende do veiculo que vai produzir, cada um tem a sua particularidade. Não acha ter certo e errado, isso vai ser de acordo com o olhar de quem está produzindo.
A gente tem que aprender a lidar com essa nova realidade e ai de que forma vamos nos apropriar disso ou não”, afirma o professor.