Minha crônica do Ecos Mostra 2017

No dia 21 de novembro foi realizado o evento de premiação do Concurso Ecos Mostra 2017, eu participei como finalista da categoria de crônica. Infelizmente não consegui alcançar a premiação, mas o aprendizado foi gratificante e fiquei feliz em ser uma dos 5 finalistas.

Apesar de ser elogiada, os jurados disseram que minha crônica ficou muito curta. Esse feedback foi bem legal, pois ano que vem tem mais e eu vou participar de novo, visto que os temas sempre são relevantes e acrescentam em muito na nossa vida pessoal.

Você pode conferir minha crônica abaixo:

Ver o mundo sob outro olhar

Um dia desses, ao ler meu feed do Facebook, uma postagem me chamou a atenção. Era o pedido de ajuda de uma moça que encontrou na rua, agonizando, um cachorro cujo órgão genital havia sido dilacerado por uma pessoa. Imediatamente, ela o levou para um veterinário. No fim da postagem, a moça que resgatou o animal, pedia ajuda financeira, afinal, a consulta, mais a cirurgia que precisou ser feita custaram caro e ela não tinha condições de pagar tudo sozinha. Ajudei como podia.

Dias depois vi um homem, devia ter lá seus 30 anos, deitado debaixo da marquise de uma igreja que fica em frente à minha casa. O dia estava frio. Chovia e ele estava todo enrolado em uma coberta. Senti pena e tristeza. Como minha mãe tinha feito sopa nesse dia, pedi para que ela colocasse um pouco em uma vasilha para levar para o sem teto. Ela imediatamente o fez. Desci e fui ao encontro dele. Chegando lá, o chamei e ele, assustado, me olhou. Perguntei se ele aceitava um pouco de sopa. Ele de prontidão aceitou e comeu. Comeu muito, como se tivesse dias que não comia.

Esperei-o terminar, perguntei a sua história, e ele me contou que, naquele dia, tinha andado desde o Centro de Vitória até o meu bairro, localizado na Serra. Disse que precisava agradecer a Deus uma promessa que tinha feito, e por isso caminhou até seus pés doerem. Enquanto ele me contava sua história, um cachorrinho, que devia ter uns 15 dias de vida, acordou e começou a ganir. O homem me explicou que ele era seu único amigo, que o tinha achado em uma caçamba de lixo, e que Deus o entregou a missão de cuidar do animal. Disse, também, que passava dias sem se alimentar, pois pedia comida só para seu amigo. Comovida com a situação, ofereci alimento para o seu amigo, e aí veio outra surpresa: o cachorrinho tinha acabado de comer, enquanto o homem passava fome.

A história que testemunhei me fez lembrar do caso do começo desta crônica em que alguém dilacerou os órgãos genitais de um cachorro. As duas histórias me fizeram refletir: uma pessoa pode não ter nada, mas se tiver amor, como a moça que socorreu o animal ferido e o sem teto que acolheu um que alguém jogou no lixo, ela tem tudo!

Após conversar com o homem percebi que nem todos que estão na rua são viciados ou porque escolheram essa vida. Muitos, que estão nesta situação, muitas vezes, têm mais caráter do que muitos que têm tudo, materialmente falando.

Após essa experiência passei a ter um olhar diferente para esses indivíduos, que na maioria das vezes são invisíveis para a sociedade. Para mim, não serão nunca mais.

Sobre minha crônica

A história realmente aconteceu. O nome dado para o cachorro foi Brad, e quem resgatou ele foi a Cibele Nunes – que hoje eu tenho contato e converso às vezes. A história de Brad me impactou muito.

 

Esse é o Brad, vira lata e que foi resgatado quase morto. Ele ia em feirinhas de adoção que eu participava como voluntária. Até hoje, Brad não foi adotado e vive em um lar temporário.

A intenção era fazer um paralelo entre a história de Brad e o morador de rua.

O personagem que feriu Brad não tem identidade na crônica, e mesmo não sabendo mesmo quem cometeu esse ato cruel, foi proposital. Abri espaço para quem estava lendo a história imaginar a identidade do agressor, que poderia ser qualquer um, desde o mais rico da cidade até outro morador de rua. A intenção foi destacar o amor de uma pessoa em situação de rua, que só carregava um pano consigo, mas nunca deixou o amigo de lado.

O tema foi bem interessante e veio em uma ótima hora, visto que o desemprego aumentou nos últimos tempos e, consequentemente, o número de população de rua também cresceu. Sabemos que as políticas públicas excluem cada vez mais esses indivíduos.

Eu posso afirmar que a maioria das pessoas que estão na rua são de bem, mas que por falta de oportunidade ou até de uma estrutura familiar sólida, acabam parando nessa situação. A maioria das pessoas ignoram essa realidade, e muitas vezes, por ignorância mesmo, por não conhecer a realidade das ruas ou por não acreditarem nas pessoas que lá vivem.

Os números de violência contra moradores de rua são altos. Precisamos dar voz a quem não tem, agir a favor de quem não é visto e devemos dar cor a um mundo preto e branco.

“Um mundo onde todos tenham igual valor. E a nenhum seja dado uma lixeira por destino.” trecho retirado do livro A vida que ninguém vê, de Eliane Brum.

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