A festa de Natal, celebrada pelos cristãos como o dia do nascimento de Jesus, é uma tradição que vem desde o século III. A data surgiu a partir de uma comemoração pagã em homenagem ao Sol pelo povo romano. A celebração foi adaptada pela Igreja Católica e o Sol foi substituído pela imagem de Jesus Cristo. Mas como é comemorado o Natal por seguidores de religiões não cristãs? Apesar de ser uma festa quase que universal o Natal não é comemorado por todas a culturas ou é interpretado de forma totalmente diferente dependendo da crença e da religião.
Hanuká
Os judeus não comemoram o Natal porque não creem em Jesus Cristo como messias e como salvador. Porém, a época do ano coincide com a celebração do Hanuká. Fernando Mendes, jornalista e representante do judaísmo, explica que a festividade celebra um milagre ocorrido por volta do ano 162 a.C.
De acordo com a história judaica, após o povo judeu libertar-se da invasão grega, foi aceso novamente o fogo no Menorá, o candelabro de sete pontas, símbolo do Judaísmo, no Templo de Jerusalém. O óleo, usado para acender as velas, que era para durar apenas um dia acabou durante oito. Desde então, comemora-se o Hanuká, representando os oito dias de milagre no templo.

A comemoração do Hanuká dura oito dias. Um candelabro diferente do Menorá é usado durante a festa, o Hanukiá. São nove velas, uma central e outras oito representando os dias que ocorreram o milagre. A cada dia umas das velas é acessa pela a que está no centro. Na tradição judaica, o Hanukiá é colocado na janela para que todos vejam e lembre-se do milagre.
Fernando completa que é comum também a troca de presente e que a comemoração envolve muita festa, alegria e muita fartura de comida, mas reforça que apesar de algumas semelhanças na forma em que é comemorado nada tem a ver com o Natal.
Bruxaria e Paganismo
O praticante de bruxaria e estilista Arthur Moura explica que, para a tradição pagã, o Natal é a data mais importante do ano, principalmente no hemisfério sul, onde coincide com a chegada do verão. O início do verão representa a volta do sol e o inicio de um novo ciclo, um momento de renascimento e de renovação, um rito de passagem.
Arthur reforça que, por se tratar de um rito solar o Natal está relacionado à energia da criação. Para os pagãos, o sol é criador e quem traz a luz ao mundo. Em nossa cultura, é possível associar o sol ao arquétipo de Jesus Cristo, que também representa a renovação e a iluminação.
Já no hemisfério norte, é celebrado o aguardo do Sol, que está nascendo em outro lugar do mundo, mas que virá nos próximos meses com a energia da vitalidade e da renovação. É um momento em que se concentram as energias para aguardar por algo que irá retornar em breve.

As comemorações pagãs de Natal muitas vezes acontecem de forma individual, já que nos tempos atuais a prática da bruxaria costuma ser solitária. O rito pagão também

não é único, cada praticamente ou grupo celebra de uma forma. Arthur tem o seu rito individual, mas não dispensa a comemoração cristã com a família, pois acredita em Jesus e na energia emanada pelas pessoas através das orações. É um momento que pode ser celebrado de várias formas. Ir à praia para receber o sol, praticar yoga, meditar, mentalizar aquilo que você quer deixar pra trás e o que quer de novo já é uma forma de ritual”, completa Arthur.
Candomblé
A professora e praticante do Candomblé, Satina Pimenta explica que a sua religião é de matriz africana e não acredita em santos católicos. Logo, não existe a lógica do Natal e da celebração do nascimento de Jesus. No Candomblé, são cultuadas as forças da natureza, que são representadas pelos orixás. Cada orixá representa alguma qualidade, uma energia, uma força.

Os candomblecistas celebram durante esse período a chegada de um novo ano, que simboliza mudança e renovação. É comum oferendas aos orixás como forma de agradecimento pelo ano que passou e também pelo ano que está por vir. A comunhão e a caridade também é uma característica importante do Candomblé e a comemoração de fim de ano sempre envolve uma ceia compartilhada e troca de presentes.
Ainda que o Candomblé não siga Jesus Cristo muito de seus praticantes não abrem mão de comemorar o Natal da forma tradicional. A própria Satina tem o costume de montar árvore com luzes e enfeites natalinos.
Apesar das diferentes visões há algo presente em todas as práticas: a fé. O sentimento de fé é universal e independe de religião ou crença. É uma época de espalhar o amor e de solidariedade. A união das pessoas e toda a positividade gerada por ela faz dessa data um momento de boas energias e de renovação.