Moradores se recusam a pagar conta de água em São Mateus

Textos escritos pelos alunos Joyce Patrocínio, Geisa Araújo, Kennedy Cupertino e Marcela Cota para a disciplina de Webjornalismo, ministrada pela professora Marilene Mattos.

Com a problemática da crise hídrica que atinge São Mateus e com o abastecimento de água salgada oferecido pela companhia responsável, Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), moradores do município se recusam a pagar a conta de água. Isso se deve por conta de o SAAE manter os valores de cobrança mesmo com a distribuição de água imprópria para o consumo humano.

Como forma de “protesto”, alguns moradores não pagam suas contas de água desde janeiro de 2017. O SAAE estabeleceu prazo para pagamento das dívidas dos consumidores afirmando que o problema da salinização não é responsabilidade da empresa.

Seleste Araújo, responsável financeiro do SAAE, afirma que a empresa continuará cobrando pela distribuição da água de forma normal. “O problema da salinização não é por parte do SAAE. Estamos trabalhando para oferecer uma água de qualidade, mas, enquanto não chover e o rio encher, isso será quase impossível.  O consumidor que não estiver em dia com sua conta terá o fornecimento suspenso”, afirma Seleste. Ela ainda conta que diariamente reclamações desta natureza chegam até a empresa, mas que nada a Companhia pode fazer.

 

A empresa é responsável também pelo tratamento de esgoto, portanto a tarifa cobrada na fatura de água não é apenas pela distribuição da água. A professora Gesabel Bianchi relata que se sente lesada por receber água salgada que é completamente imprópria para o consumo e mesmo assim ter que pagar a conta.

Não pago minha conta desde janeiro e eles (SAAE) não suspenderam o fornecimento. Enquanto não melhorar a qualidade da água, eu não vou pagar. É um absurdo pagar por algo que não uso”, afirma a professora.

De acordo com a advogada Célia Costa Souza, o consumidor precisa pagar a taxa de água normalmente. “A empresa está cobrando pelo serviço que tem prestado e juridicamente ela está correta. Em contra partida, o que pode ser feito é recalcular a dívida do consumidor ponderando a salinização da água e talvez diminuindo o valor cobrado, mas isso depende da empresa. Se observar a fatura que é cobrada, existem encargos que não estão relacionados apenas ao fornecimento de água e que é obrigação do consumidor pagar”, enfatiza a advogada.

Água salgada e os prejuízos à população de São Mateus

Com a salinização da água do rio Cricaré, a população de São Mateus sofre com os prejuízos que a água salgada que chega até as torneiras está causando. Muitos moradores reclamam de perdas de eletrodomésticos, enferrujamento de utensílios e até mesmo aquisição de reservatórios para acúmulo de água potável.

Existe uma preocupação em relação à crise hídrica. O que se pode fazer é esperar pela chuva para que o rio volte a encher. Enquanto isso, moradores e comerciantes têm tentado driblar essa dificuldade, mas não escapam dos prejuízos causados. Muitos relatam prejuízos que a água salgada trouxe. Desabafos que tomam forma até nas Redes Sociais.

A bancária Jaiane Turíbio relata os transtornos que a água salgada causam e conta que está comprando água potável para abastecer a caixa d’água. “Aqui em casa, além da conta de água salgada fornecida pelo SAAE que pagamos mensalmente, ainda gastamos comprando água potável que abastece nossa caixa d’água aproximadamente duas vezes ao mês”.

A água salgada também está deixando um estrago dentro da casa de Jaiane. Os talheres e utensílios estão todos enferrujados e é impossível utilizar o chuveiro elétrico. “Com o sal presente na água, a resistência do chuveiro queima constantemente, além do choque elétrico que ocasiona”, relata a bancária.

Comércio

Os comerciantes também estão preocupados. Donos de lanchonetes e restaurantes da cidade compram água para abastecer o comércio

Além dos moradores, quem também tem sofrido com a salinização da água são os comerciantes, donos de bares, restaurantes e lanchonetes. Agnaldo Corradi, proprietário de uma lanchonete em São Mateus, conta as dificuldades que tem enfrentado por conta da água salgada. “Abasteço a caixa d’água da minha lanchonete uma vez por semana e muitas vezes tem faltado água. O custo tem ficado bem caro e nem posso compensar isso no preço dos meus produtos pra não perder os meus clientes”, conta Corradi.

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QUEM PAGA A CONTA?

Comerciantes, moradores e, até, o Estado. Pode parecer inusitado, mas o Estado também está sofrendo com a situação. As máquinas da empresa contratada são danificadas devido a salinização da água. Muitas máquinas de captação, tratamento e distribuição de água  depreciadas pela elevada quantidade de sal presente na água. Segundo o advogado Reginaldo Costa, não há um culpado por todos esses danos.

Quando a água não possui níveis de potabilidades condizentes com as legislações existentes, como diz o Ministério da Saúde e o Código de Defesa do Consumidor, o Estado deve reparar os danos que se causa, mas neste caso não existe um culpado. É um fenômeno da natureza”, detalha o advogado.

População de São Mateus sofre com água salgada

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Rio Cricaré – São Mateus / Foto: Geisa Andrade

Aproximadamente há um ano, a população de São Mateus sofre com a estiagem e com a seca que atinge o rio que abastece a cidade, o Cricaré. O rio sem água não tem vazão suficiente para impedir que o mar avance o que resulta na salinização da água do rio. Desta forma, a captação feita pela empresa responsável pelo fornecimento de água no município, Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) é de uma água salgada e imprópria para o consumo humano.

A água que chega até as casas dos moradores é salgada e impossível de ser utilizada para o consumo. Moradores têm se mobilizado e buscam outras formas de conseguir água para utilização. Maria Idevani Araújo, autônoma, conta que precisa comprar água para abastecer a caixa d’água de sua residência e que tem conscientizado toda a família para a economia de água.

Aqui em casa todo mundo entrou na economia de água. Tem sido muito difícil esse tempo com essa água salgada. Só tenho água doce na torneira porque comprei. Então, é preciso economizar”, diz Maria.

Maria Idevani ainda afirma que os vizinhos têm feito revezamento para buscar água potável em uma bica que fica próxima à sua casa. Para o abastecimento, foi necessário comprar alguns reservatórios e baldes com água estão espalhados pela casa como forma de reserva.

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A água que chega até as casas dos moradores é salgada e impossível de ser utilizada para o consumo / Foto: Geisa Andrade

De acordo com o SAAE, a distribuição de água tem sido feita de forma consciente. Delermano Suim, responsável pelo setor de distribuição de água, afirma que o SAAE sabe da necessidade da população de receber água potável, mas que com a baixa no nível do rio isso é impossível. “Temos consciência de que estamos fornecendo água de má qualidade e isso não é uma responsabilidade nossa. Na minha casa também não tem água doce e ver o sofrimento da população tem sido nossa angústia”, relata Suim.

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Parte do mapa do município de São Mateus e percurso do Rio Cricaré

A bióloga Franciele Fonseca Andrade explica as causas da água salgada e a importância da preservação do meio ambiente. “ Agora que o caos está estabelecido não há muito o que se fazer. Precisamos aguardar as chuvas e repararmos os danos que foram causados. Os ecólogos e ambientalistas sempre alertaram dos perigos em fazer a retirada das matas ciliares e também desmatamento de regiões de nascentes. Quando não há vegetação, os solos ficam expostos e perdem água. A salinização é o resultado da negligência da sociedade e do poder público para com os cuidados de manutenção de rios, nascentes e reservatórios”, afirma a bióloga.

Construção de poços artesianos solucionam crise hídrica em São Mateus

Uma alternativa criada pela prefeitura de São Mateus para solucionar o problema da crise hídrica do município e atender a demanda da população foi a construção de poços artesianos por bairros. Uma parceria em conjunto com a empresa responsável pelo abastecimento de água da cidade Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) e coordenado pela secretaria municipal de Defesa Civil deu início a construção de poços que atendam a demanda da população.

O diretor do SAAE Rener Michel destacou que a parceria tem contribuído para solucionar o atendimento à população com água potável.

A perfuração dos poços está acontecendo em toda a cidade. Essa foi uma maneira de resolver o problema da água para todos os moradores. É um trabalho difícil e contamos com a ajuda financeira do governo federal”, ressaltou.

O secretário de Defesa Civil de São Mateus, Coronel Marcos Assis, afirmou que em poucos dias os poços estarão atendendo a 100% da população mateense. “Entendemos que é uma ação paliativa, mas devido a urgência da causa foi a solução. Estamos fazendo o melhor que podemos pensando em toda a cidade, no comércio e também no bem-estar da população”, disse.

A expectativa do SAAE é atender toda população com água potável e também acredita que em breve haverá melhora na salinização da água.

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