Texto escrito pelos alunos Igor Sales, Bruno Cabral e Saulo Ribeiro para a disciplina de Webjornalismo, ministrada pela professora Marilene Mattos.
A desigualdade está relacionada à má distribuição de renda e pouco investimento na área social

A desigualdade social é um problema crônico no Brasil e sua causa está relacionada à má distribuição de renda e, principalmente, o insuficiente investimento na área social. O país, no ranking entre as dez nações com o Produto Interno Bruto (PIB) mais alto, aparece com o terceiro pior índice de desigualdade no mundo, segundo o relatório da Organização das Nações Unidas (ONU).
Vários fatores causam a disparidade de renda no país. É comum atribuir a culpa ao processo educacional falho nos estágios, desde a construção educacional básica até o Ensino Superior.
Na realidade, há múltiplos fatores interligados, carentes de atenção, de reforma na estrutura, com vistas à solução, a começar pela Educação, com ênfase na distribuição de renda, pela revisão de taxas de Imposto de Renda (IR) dentre outros aspectos correlativos”, ressaltou o especialista da área econômica Hélder Luciano Oliveira.
Luciano disse também que o Brasil enfrenta, hoje, uma recessão técnica (crise econômica), que se agravou neste ano. “A recessão brasileira aprofundou-se no terceiro trimestre deste ano, com destaque para a forte queda dos investimentos e consumo. Quadro que dificulta ainda mais a recuperação da economia. Isto ocorre ainda em meio ao aumento do desemprego e queda da confiança”, afirmou.
Ouça parte da entrevista com Hélder Luciano:
Dessa forma, a crise econômica interfere na desigualdade social do país. Em 2005, por exemplo, o Brasil era o oitavo país mais desigual do mundo. Já em 2010, aparece com o terceiro pior índice.
No meu entendimento, isso significa que as políticas sociais estão ineficientes. Funcionam como medidas paliativas e tratam o problema, mas não cuidam da causa”, disse o economista Celso Guerra.
Por outro lado, os resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad-2011), na avaliação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), apontam para a diminuição da pobreza e, consequentemente, da desigualdade social. De acordo com a pesquisa, nos últimos anos, 28 milhões de brasileiros saíram da pobreza e 36 milhões entraram na classe média.
Embora o estudo reporte resultados positivos, o Brasil continua extremamente injusto na distribuição social de recursos, na opinião de muitas pessoas.
Quem está desempregado não tem direito a nem um salário mínimo, além do benefício do Seguro-Desemprego. Com relação aos programas ‘Minha Casa Minha Vida’ e ‘Bolsa Família’, eles são ilusórios, visto que o direito se limita ao trabalhador regularmente empregado”, destacou a empregada doméstica Sandra Schulz.
Detentora de boa condição socioeconômica, a médica Aline Camporez também credita essa desigualdade à má administração nacional. “O governo não ajuda, como também consegue atrapalhar o progresso das classes menos favorecidas à medida que não lhes oferece saúde, educação e moradia. Com relação à habitação, o programa ‘Minha Casa Minha Vida’ ainda se apresenta tímido frente às necessidades reais e, hoje, prejudicado por práticas que envolvem episódios de corrupção”, opinou.
Já segundo o economista Celso Guerra, o maior entrave da economia brasileira não é a má distribuição de renda e, sim, o desequilíbrio fiscal.
“Nosso maior problema é o desequilíbrio fiscal do governo nos níveis federal, estadual e municipal (despesas acima das receitas). EM nosso sistema federativo, o governo central arrecada mais da metade de todas as receitas tributárias. Assim, quando o desequilíbrio acontece, o impacto é grande em vários aspectos, como na distribuição de renda, associado ao fenômeno da inflação”, concluiu.
Número de moradores de rua cresce na Grande Vitória
Segundo pesquisa realizada pelo Ipea, com base em dados de 2015, a estimativa é que o país tem mais de 100 pessoas em situação de rua
A cada ano, mais indivíduos utilizam as ruas como forma de buscar recursos para sobrevivência no país. Na Grande Vitória, por exemplo, de acordo com dados divulgados pela secretária municipal de Assistência Social de Vila Velha Ana Cláudia Simões Limas para o site G1, em março deste ano, 198 pessoas se encontravam em situação de rua. Já na Serra, o levantamento de pessoas em situação de rua não foi divulgado, pois é realizado anualmente.
Da mesma forma, com base em uma pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com dados de 2015, a estimativa é de que o Brasiltem pouco mais de 100 mil pessoas vivendo nas ruas.
“Cresce o número de moradores de rua no Brasil e também no Espírito Santo. Infelizmente, há uma disparidade social que faz com tantas pessoas se encontrem em situação de rua. Se não me engano, em agosto de 2015, quase 600 pessoas estavam em situação de rua na Grande Vitória”, destacou o sociólogo André Lucca.
Tal fato está relacionado à ausência de vínculos profissionais, como desemprego, além da violência, perda da autoestima, alcoolismo, drogas e situação pós-prisional. Em geral, estão correlacionadas à desigualdade social.
E este crescente aumento pede maior atenção por parte dos governantes, para que esses indivíduos tenham a possibilidade de vida decente e com os recursos mínimos para obter, ao menos, alguma qualidade de vida.
“Entretanto, poucas políticas públicas são desenvolvidas para solucionar esses problemas. Infelizmente, o governo não dá atenção suficiente aos mais necessitados. Cabe às ONGs e Instituições Religiosas ajudá-los”, opinou a administradora de empresas, Luciana Rocha Maia.
Já para o deputado estadual do Espírito Santo Marcos Bruno Bastos, o governo presta auxílio aos mais necessitados.
Sim, embasado no decreto nº 7.053 de 23 de dezembro de 2009 que institui a Política Nacional para a População em Situação de Rua e seu comitê intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento. Acredito que a partir desse marco, afirmou-se o compromisso de desenvolver ações, programas e projetos”, destacou.
Por outro lado, o morador de rua João Batista Pontes credita esse elevado índice ao governo falho do país. “Infelizmente os políticos do Brasil, em sua maioria, são omissos e por isso tantas pessoas se encontram em situação de rua”, falou.
Assim como João, Erasmo Meireles de Oliveira também é morador de rua e partilha do mesmo pensamento. “É preciso que os governantes passem a nos ver e tratar de maneira igualitária e respeitosa”, reivindicou.
Pessoas em situação de rua sentadas em calçada de Vitória (Foto: Igor Sales).
Pobreza eleva o surgimento de criminalidade no ES
Desigualdade socioeconômica dos brasileiros influencia diretamente nos casos de violência no país
O Brasil apresenta alto índice de violência ao longo de sua extensão territorial. Segundo dados do Atlas da Violência 2017, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o país registrou, em 2015, 59.080 homicídios, aumento de 28,9 mortes a cada 100 mil habitantes. Além disso, as cidades mais violentas do planeta têm como característica comum a desigualdade acentuada entre ricos e pobres.
Outros fatores como racismo, alcoolismo, drogas, facilidade de comprar armas e o baixo índice de escolaridade também pesam e agravam o problema.
Para reverter esse quadro negativo, é preciso incentivar programas sociais inclusivos, com foco em acesso à qualificação, ao trabalho e à renda.
Contudo, é fundamental que a renda cresça como consequência da contrapartida de produção, para que não se obtenha apenas carga tributária e a tão temida inflação.
“A inflação é o pior dos impostos. Quanto menor a renda, menor a possibilidade de defesa contra ela. Acredito que, estabilizada a economia, nossas lições aprendidas nos governos Fernando Henrique Cardoso e no primeiro mandato de Lula vão nos ajudar muito a construir este caminho”, destacou o economista Celso Guerra.
A violência, do mesmo modo, é a consolidação do tráfico de drogas, principalmente em se tratando do alto consumo, além de elevados níveis de impunidade.
De acordo com a pesquisa recente do Atlas da Violência, há mudança no índice de violência, em relação a 2005, quando ocorreram 48.136 homicídios. Os números e as taxas de homicídio foram analisadas no período de 2005 a 2015, detalhados por regiões, Unidades da Federação e municípios com mais de 100 mil habitantes.
Somente 2% dos municípios (111) respondiam, em 2015, por metade dos casos de homicídio, e 10% deles (557) concentraram 76,5% do total de mortes.
No Espírito Santo, quase de maneira exclusiva, a violência se atrela à ação policial. No entanto, as pessoas não podem atribuir a culpa na atividade dos policiais, em decorrência dos vários outros fatores que corroboram a taxa elevada de violência.
É preciso cobrar do Ministério Público e dos governantes, para que se cumpra a regra conforme disposto na Constituição. Necessita-se de limites para conter a insegurança que assola a região da Grande Vitória”, conclui o ex-delegado Júlio César de Souza.

Da mesma forma, o Mapa da Violência 2015 aponta a capital capixaba com grande índice de violência contra a mulher, tornando-se o Estado que mais mata em se tratando das mulheres. E a totalidade da parcela surge de camadas sociais mais baixas, apesar de ocorrer também em pessoas de nível social elevado.
A pesquisa da Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Estado (Sesp) apresenta dados positivos com a redução do número de homicídios de 2014 para 2015, embora Vitória continue violenta.
