Dirigido por Nicolas Roeg e estrelado por David Bowie, o clássico cult britânico O Homem que Caiu na Terra (The Man who Felt to World, 1976, Reino Unido) estreia hoje, dia 03/05, no Cine Jardins, como parte do projeto “Clássicos nos Jardins”. Em sua quarta semana, o projeto busca exibir grandes obras do cinema. O filme será exibido durante toda a semana, sempre às 21h.

David Bowie foi um dos artistas mais inovadores e geniais da música. Em 1976, quando aceitou estrelar o longa de Nicolas Roeg, seu primeiro trabalho como o ator, o músico britânico já era conhecido em todo mundo pela sua imagem excêntrica e andrógina. Seu trabalho em um O Homem que Caiu na Terra é mais um exemplo de seu talento múltiplo como artistas e das inúmeras personalidades que conseguia assumir.

Baseado em um livro de Walter Tevis publicado em 1963, o filme narra a história de um alienígena humanóide que vem à Terra em missão de salvar o seu planeta, que está sofrendo por falta de recursos hídricos. No papel do alienígena temos David Bowie. Como parte do plano, ele se disfarça do empresário Thomas Jerome Newton, numa tentativa megalomaníaca de acabar com a catastrófica seca que assola seu planeta de origem.
A trama pode parecer um pouco confusa, e da fato é. O roteiro e a montagem apresentam várias falhas, mas nada disso diminui o filme ou a sua importância. A questão principal aqui é a presença de um grande astro do pop. O impacto causado por Bowie elevou o filme aos status de cult e o transformado em um clássico instantâneo.
A confusão e a bagunça presentes no filme, na verdade, são elementos que o caracterizam e o diferencia de outras produções da época. Um recurso de linguagem usado pelo diretor para gerar autenticidade a sua obra, Roeg já havia trabalhado de forma semelhante em outros filmes como Performance, de 1970, estrelado por outro ídolo da música britânica, Mick Jagger.

Muito além do apelo pop do filme, há também um questão filosófica central. A fragilidade da condição humana e o olhar que o “diferente” tem sobre nós. O filme também questiona os valores morais e éticos de nossa sociedade e a decadência de nossa civilização sob a ótica de um “estrangeiro”, que acaba se corrompendo e perdendo seus ideais em um planeta dominado pela ambição e pelo ego.
A história do alienígena que vem à Terra em missão de salvar o seu país lembra em muito a de outro alienígena, Ziggy Stardust. Este, é um dos vários alter-egos do próprio Bowie e também personagem central de seu álbum The Rise and Fall of Ziggy Stardust and The Spiders from Mars, lançado em 1972. É impossível não relacionar os dois personagens. A ópera-rock composta por Bowie conta a saga de Ziggy, um extraterrestre que chega ao nosso planeta com o objetivo de salvá-lo, mas acaba sendo corrompido e hipnotizado pelo rock’n’roll.
Com uma trilha sonora cativante, fotografia deslumbrante e, obviamente, atuação icônica de David Bowie, o filme é a escolha perfeita para quem busca uma ficção científica que foge do óbvio. Misturando elementos da cultura pop e do mundo da fantasia que dominavam o imaginário coletivo da década de 1970, Nicolas Roeg criou uma obra atemporal, cultuada e relembrada até os dias de hoje.
Uma curiosidade
Durante a gravação de O Homem que Caiu na Terra, no estado de Novo México, EUA, Bowie escreveu as canções do álbum Station to Station, lançado também em 1976, mesmo ano do longa. Tanto a capa deste álbum quanto do sucessor, Low, de 1977, fora retiradas de cena do próprio filme.