A Unicef e o Facebook criaram uma personagem fictícia chamada Fabi Grossi com o intuito de promover a discussão sobre a depressão e os vazamentos de vídeos e fotos íntimas.
Como funciona?
Primeiro você tem que ter um perfil no Facebook para conseguir mandar uma mensagem para o perfil da Fabi Grossi.
Ela só começa a se comunicar caso você inicie a conversa, e só para de mandar mensagem quando você envia “para”. Além de conversar, ela envia fotos, vídeos e até áudios.
A história é de uma jovem de 21 anos que tem seus vídeos íntimos divulgados na internet pelo ex namorado. A conversa pode durar cerca de 48 horas, e pelas críticas é tudo muito real!

Fabi Grossi utiliza gírias, manda áudios, selfies e tira fotos do que está vendo para explicar de forma mais claro seu ponto de vista. Todo roteiro foi escrito pela empresa Sherpas, localizada na argentina, que desenvolve assistentes sociais virtuais.
Objetivo
O objetivo principal da Fabi Grossi é desabafar sobre o que aconteceu, porém ela também vai saber reagir e conversar caso perceba que o interlocutor está com problema.
Por exemplo, se ela perceber que quem fala está sendo vítima de exposição pornográfica, ela passa a falar menos de si e tenta compreender em como ajudar. Caso o interlocutor leve a conversa para o lado de que a culpada por essa situação é ela, a conversa se direciona para a explicação de que ela é uma vítima. Ela pode perceber que a pessoa que está do outro lado já vazou conteúdo íntimo de terceiros e passa a explicar as consequências judiciais e o sofrimento da vítima.
Na página do Facebook da Fabi nota-se muitas críticas positivas, incentivando os leitores a trocarem mensagens com a personagem.
Dados sobre o suicídio
Ao final da conversa ela revela dados sobre depressão e suicídio. No Brasil, o suicídio é a quarta maior causa de morte de jovens com idades entre 15 e 29 anos. Em um período de quatro anos, o número de mortes causadas pelo suicídio aumentou 12%. No cenário mundial, o suicídio é a segunda maior causa de morte.
A depressão atinge cerca de 5,8% dos brasileiros, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O número é o maior de toda América Latina, porém é menor comparado com os dados mundiais. De 2005 a 2015 o número de indivíduos afetados por esta doença cresceu 18,4%.
Entrevista
Conversamos com a professora de psicologia do Direito, dra. Fernanda Helena de Freitas Miranda, sobre as consequências que a exposição sexual pode trazer, tanto para questões legais quanto para o psicológico das vítimas.
A professora citou sobre o revenge porn (pornografia de vingança), fenômeno recente, onde o criminoso expõe publicamente, divulgando mensagens, fotos ou vídeos íntimos de terceiros, sem o seu consentimento, mesmo que estes tenham se deixado filmar ou fotografar no âmbito privado.
Ela esclareceu que o Direito caminha atrás da sociedade, por isso, a sociedade muda e o Direito muda depois. Ela exemplificou comparando que há 10 anos muitos dos crimes que estão acontecendo na internet não eram considerados como tal. Por isso o judiciário começa a criar dispositivos agora para inibir essas práticas criminosas, alguns preveem até prisão nos casos mais sérios. Fernanda explicou que, quando se trata de um menor, a questão gira em torno da vulnerabilidade, portanto ele conta com uma série de proteções que constam no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
É uma forma de violência perversa, porque ela não deixa marcas físicas, mas é uma violência que afeta a pessoa psicologicamente e socialmente, trazendo consequências sociais”, Fernanda Helena.
A professora explicou que a sociedade ainda é machista, por isso as mulheres são as que mais sofrem com exposição e, na maioria das vezes, são censuradas. Por isso, elas acabam sendo culpabilizadas. “Por exemplo, por vivermos em uma sociedade muito machista, a menina que tem suas fotos vazadas e tem um comportamento sexual equivalente ao comportamento de um menino, ela vai ser criticada. Então, as vítimas do revenge porn vão ser culpabilizadas por essa violência. Ela está sujeita a um tipo de normatização de comportamento que o menino não está. O revenge porn pode acontecer com homens também, mas a maior parte do caso são de meninas, justamente porque, se o menino tem a foto dele divulgada, ou um ato sexual, isso tem uma consequência social menor justamente pelo comportamento sexista que há na sociedade”, disse Fernanda.
Outro aspecto que foi discutido é a questão familiar. “As famílias de adolescentes têm uma série de problemas para lidar com a sexualidade dos filhos. Muitas vezes por falta de informação, por medo, tem toda questão da religião, do julgamento do comportamento”.
Fernanda Helena explica que muitas meninas não procuram ajuda porque não sabem lidar com a situação, já que a exposição ultrapassa a fronteira da internet. “Muitas vezes essas meninas não sabem procurar ajuda, porque elas não tem coragem de contar para os pais o que aconteceu, e elas têm a vida exposta do ambiente escolar, no bairro, e esses limites de exposição extrapolam o limite físico, porque as fotos, em questão de minutos já vão estar fora do país e uma vez essa foto estando na internet não tem como excluir completamente porque há print”.
A mulher que sofre exposição é vítima, mas é culpabilizada pela sociedade até que ela mesma se sente culpada. Nas redes sociais isso é visível. Num primeiro momento a vítima tem que ser acolhida, depois ela precisa se emponderar para denunciar e sair desse lugar de vítima para um lugar de agência”.
Questionada sobre as doenças psicológicas que a menina pode vir a sofrer por conta dessa exposição, a professora é bem enfática. “A exposição sexual pode ser gatilho para ansiedade, depressão, que podem trazer grande sofrimento emocional e sensação de solidão. E já houveram casos de meninas que passaram por isso e não aguentaram o sofrimento oriundo disso e suicidaram. O Projeto Caretas traz justamente essa reflexão, que tenta tratar desse aspecto”.
O suicídio pode vir como consequência desse sofrimento mental, segundo a professora.
São dois tabus de uma vez: a exposição sexual e o suicídio. Quando colocamos que a exposição sexual pode levar ao suicídio, porque a sociedade ainda tem a ideia de que, se você tocar em algum desses assuntos, você está incentivando a pessoa a fazer”.
Minha experiência
Conversei com a Fabi Grossi por alguns dias e percebi o quanto o Projeto Caretas tentou torná-la humana. Ela manda fotos e até áudios! E isso faz com que as pessoas pensem que essa personagem realmente é verdadeira, e não é. Apesar disso, a história é muito comum nos dias de hoje.
Os prints abaixo foram tirados por mim, em uma conversa com a Fabi.
O legal de dialogar com ela é que recebemos fotos, prints e informações. Ela passa o dia inteiro falando com você, é muito interessante!