Desde a Revolução Iraniana, em 1979, mulheres não são permitidas de entrar em estádios de futebol no país. Mas na Copa do Mundo da Rússia deste ano, o governo liberou a torcida feminina no estádio Azadi, que significa “liberdade”, em Teerã, capital do Irã.
Copa do Mundo Rússia 2018
As mulheres não podiam ir ao estádio de futebol desde 1979, segundo o governo, para “protege-las” do comportamento ofensivo de homens.
Esse ano entrou para a história do país ao ser autorizada a entrada de iranianas no estádio Azadi, na capital do Irã. Apesar da tentativa do presidente da Fifa, Gianni Infatino, de conseguir liberação para o primeiro jogo da seleção iraniana contra o Marrocos, o governo só concedeu após o segundo jogo, contra a Espanha. Infelizmente o time perdeu para os espanhóis de 1×0.
Maryam Qashqai, figura expressiva de resistência feminina no país, criou um
abaixo-assinado para pressionar o presidente da FIFA a tomar alguma providência em relação a não participação de iranianas nos estádios. Até o dia 19/06, a petição já contava com cerca de 63 mil assinaturas. O objetivo é chegar a 75 mil.
O incentivo das mulheres foi tão positivo que o capitão do time Masoud Shojaei defendeu a presença feminina também nos estádios de sua terra natal, Xiraz – cidade do sudoeste do país.
Política iraniana
O país está localizado na Ásia Ocidental, numa região onde ficava a Pérsia e que é considerada um dos locais mais antigos habitados pelo homem. O país conta com mais de 77 milhões de habitantes e é uma República Teocrática Islâmica, baseada na Constituição de 1979.
O governo iraniano se divide em um líder supremo, que é o Chefe de Estado do país, conhecido como Guia Supremo, cargo vitalício, eleito pela Assembleia dos Peritos – que também é responsável por supervisionar e, se preciso, retirar do cargo o líder -; Poder Executivo, na figura do Presidente, sendo xiita e eleito pelo voto universal, com um mandato de quatro anos; Poder Legislativo, é um parlamento composto por 290 membros eleitos por voto, para um período de quatro anos e o Poder Judiciário, sendo o chefe nomeado pelo Guia Supremo.
Além disso, há um Conselho dos Guardiães, composto por 12 juristas, sendo seis clérigos especialistas em direito religioso nomeados pelo Guia Supremo, e seis juristas, nomeados pelo chefe do poder judiciário e aprovados pelo legislativo. A Assembleia dos Peritos é composta por 86 clérigos eleitos por sufrágio universal, para mandatos de oito anos.
E, por fim, o Conselho de Discernimento, onde existem 22 membros nomeados pelo Guia Supremo, incluindo os seis religiosos do Conselho dos Guardiães, e os chefes dos poderes legislativo, judiciário e executivo, bem como o Ministro, cuja pasta trata do assunto a ser discutido, e mais uma dúzia de outras personalidades.
O que foi a Revolução de 1979?
Desde a década de 40, o Irã era governado por um ditador, xá Reza Pahlevi. Na década de 70, a insatisfação do povo por parte do governo gerou grande instabilidade no país. O aiatolá Ruhollah Khomeini era o principal crítico do governante, e foi exilado para Paris, mas mesmo assim continuava suas críticas.
Em 1979, o aiatolá retorna ao Irã e as instabilidades social e política aumentaram. Opositores de esquerda, liberais e xiitas, se uniram contra o governante em função e deram início a um processo revolucionário. Depois de Pahlevi ser deposto do poder, o Irã foi declarado uma República Islâmica.
O novo governo foi considerado bastante extremista, tendo suas leis baseadas no islamismo. Uma das posturas do governo foi romper as relações com os Estados Unidos. O processo revolucionário resultou no governo de um chefe religioso, que transformou o país em um Estado teocrático, mas que inicialmente era guiado por anseios democráticos e de melhorias das condições de vida dos iranianos.
Os castigos físicos foram liberados, a pena de morte entrou em vigor contra os defensores do xá, prostitutas, homossexuais, comunistas e judeus. Os hábitos considerados ocidentais como vestuário, minissaia, maquiagem, música ocidental, jogos e cinema também foram proibidos.