Internet nossa de cada dia

Em um mundo cada vez mais virtual, estar presente nas Redes Sociais é quase uma exigência do século XXI. Mesmo com tantas facilidades, 60% da população não consegue pagar para ter acesso à internet

R$ 15 reais. Esse é o valor que Victória Chagas usa para se comunicar com amigos e familiares, mandar e-mail e se informar. A estudante de psicologia mora em Cariacica com o pai e irmãos. Sai de casa cedo, o uso de banda larga é essencial quando ela não tem acesso ao Wi-fi.

Victória teve o primeiro Smartphone aos 19 anos. Sem condições financeiras para comprar um celular, ganhou do irmão um aparelho usado. Foi com ele que a estudante de psicologia teve o primeiro contato com as Redes Sociais. “A internet é essencial. Agora, que eu tenho WhatsApp, consigo conversar mais com minhas colegas”, disse.

Victória Chagas

Para Ney Conceição, a internet é tão essencial quanto a energia elétrica e o alimento. Morando de aluguel, a família do pedreiro tem acesso à internet há dois anos. Ney já teve um plano de conta, mas acabou cancelando e optando por um plano pré-pago.

“Eu cheguei a ter conta, que era 30 reais, mas começou a aumentar muito. Pra quem paga aluguel, água, luz…a gente acaba vendo as prioridades”, disse Ney Conceição.

A esposa de Ney, Liliam Teodoro, também tem acesso. Para a diarista, a internet é importante para se comunicar com os 5 filhos quando não está em casa. Além disso, através da internet, Liliam consegue vender salgados com os anúncios no WhatsApp.

“Não é luxo. É necessidade, frisa Liliam Teodoro.

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A internet ajuda os filhos do casal nas atividades escolares | FOTO: Kennedy Cupertino

Há um ano eles conseguiram instalar o Wi-fi em casa. O investimento que, mesmo que necessário, reflete diretamente no mesa da família.

“A gente acaba sacrificando uma coisa ou outra…sacrificando não…comprando com menos quantidade o leite, uma roupa, pra poder ter internet,” relatou Liliam.

Para o sociólogo Aloisio Fritzen, o acesso à internet ainda é um tabu para grande parte dos brasileiros. Principalmente para os mais carentes que, em alguns casos, precisam colocar na ponta do lápis os valores das despesas. 

“Torna-se um tabu em função da não revelação de que a grande maioria não tem acesso garantido às informações por meio da internet. Há uma lacuna entre o escrito e o dito em contraposição à realidade no dia-a-dia da maioria da população mais pobre. A desigualdade de acesso à internet é proporcional à desigualdade econômica”, destacou.

Quem paga mais?

De acordo com o estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o aumento de lares brasileiros com internet domiciliar passou de 67,9%, em 2016, para 74,8% em 2017. Ainda segundo a pesquisa, 40,7% da população possui um computador em casa, todavia, apenas 14,5% dos que estão abaixo da linha da pobreza tem acesso a essa tecnologia.

As dificuldades em adquirir um computador ou um pacote de dados reflete a situação na qual o País se encontra. A desigualdade ainda é notória na cotidiano no momento de acessar as tecnologias.

Segundo os estudos da Aliança para Uma Internet Acessível , para as classes de maior renda, 1 gigabyte de internet representa 0,60% do faturamento. Enquanto para as classes menos favorecidas, representa 9,42%. Tendo como base o salário mínimo, essa porcentagem representa R$89,86. Um valor considerável na vida de uma família.

 

De acordo com o sociólogo Aloisio Fritzen, a desigualdade de acesso à internet é proporcional à desigualdade econômica e permeia por todas as áreas de atuação e ocupação no processo de desenvolvimento.

“O acesso às redes e aparelhos mais sofisticados estende e amplia a desigualdade já existente em outros setores, sabendo que a base do poder econômico traz um reflexo imediato para a condição de vida nos diversos setores de vivência do cidadão”, destacou.

Para Victória Chagas, em um mundo que se torna cada vez mais digital, dificuldades em acessar internet é um exemplo que a tecnologia ainda não está disponível para todos.

“Existe um grupo de pessoas, que por causa do preço da internet, são afetadas. O conhecimento é afetado, a inclusão é afetada. Um mundo se torna cada vez mais digital, mas quando as pessoas não têm acesso a isso, elas ficam em situação desigual”, disse Victória Chagas.

Jeitinho Brasileiro

Assim que chega em casa Lorrayne Scapin, 22 anos, atenta, desliga o dados móveis para conectar na rede de Wi-fi. É assim quando chega no trabalho, na faculdade e, também, na casa de algum amigo.

“Eu atualizo o máximo de páginas e baixo todos os vídeo, fotos no Wi-fi para não gastar meu 3G. Fora de casa eu uso só com extrema necessidade, casos de extrema importância mesmo como: GPS, telefone de algum lugar”.

Falando em jeitinho brasileiro, vale lembrar do sucesso de Whindersson Nunes, não é mesmo?

Muitos tentam se conectar e dão um jeitinho para não ficar longe do mundo virtual. Utilizam redes de Wi-fi de escolas, lanchonetes e, até mesmo, de amigos para economizar os dados móveis do aparelho.

“O Jeitinho Brasileiro tem uma influência histórica e cultural no comportamento da população de modo geral. Para ocupar o espaço ou a distância entre o ideal e do regrado estabelecidos, em contraposição ao que é possível, as pessoas encaminham soluções do Jeito que é possível. Seja esta talvez a maneira mais direta de permitir que a desigualdade de acesso ocorra em grau menor”, detalha o sociólogo.

Exercitar o controle

Whatsapp, Instagram, Twitter, Facebook e Snapchat. São tantas Redes Sociais que plano de banda larga da estudante Amanda da Silva não aguenta. Com essa variedade de perfis, o lema é economizar. Mas não é isso que acontece.

“Eu uso até acabar…uso cinco minutos de Instagram e acaba o pacote todo. É muito sem graça”, disse Amanda.

Estudante mexendo no celular
Amanda gosta de usar o celular para fazer os trabalhos da escola | FOTO: Kennedy Cupertino

Para manter a vida social nas Redes, a estudante dedica quase 10 horas no mundo virtual. Entre curtidas, comentários e compartilhamentos, está o descontrole para manter o pacote durante todo mês. “Quando acaba eu fico sem mesmo ou coloco mais”.

O economista Guilherme Lucas Barcelos destaca que o autoconhecimento é essencial para gerenciar o orçamento e ter o serviço de banda larga durante todo mês. Guilherme ainda frisa que, para não ter problemas, é necessário incluir as despesas com internet como custo fixo.

“Se o indivíduo recebe um salários ele deve perceber as despesas com a Internet como um custo fixo, e portanto, já excluir de seu salário essa obrigação mensal. Por Exemplo: se o salário líquido do indivíduo é de R$1000 e ele paga R$100 de energia elétrica, R$40 de água e R$ 50, ele deve ter consciência de que de fato só tem R$ 810,00 livres”, exemplificou.

Espaços Públicos

Praças, escolas, postos de saúde, áreas administrativas e locais de grande concentração de pessoas são alguns pontos onde é oferecido Wi-fi gratuito, em Vitória. São mais de 200 pontos que proporcionam a interatividade, acessibilidade e inclusão.

De acordo com o IBGE, Vitória é a quarta cidade mais populosa do Espírito Santo com uma população estimada em 358 mil habitantes. Os pontos de Wi-fi livre estão distribuídos por 56 bairros da Capital.

O serviço se encontra na grande maioria no Centro da Capital, com 11 pontos, e em bairros mais populosos como Jardim Camburi, com 15, Itararé, com 11, Romão, também, com 11, Jardim da Penha, com 6, Praia do Canto, com 5, e Maria Ortiz, com 4.

Veja abaixo onde encontrar Wi-fi livre em Vitória.

Locais com serviço de inclusão digital mostram que, com investimento e auxilio dos órgãos competentes, é possível dar oportunidade para que as pessoas em situação desigual tenham acesso a mundo virtual. Proporcionando a possibilidade de acesso, o indivíduo passa a ter voz e a se socializar.

O responsável pela Subsecretaria de Tecnologia da Informação (Sub-TI) da Prefeitura de Vitória, Márcio Passos, explica que a inclusão é o principal benefício do projeto que surgiu em 2015.

“Percebemos que estamos no caminho certo, o de dar a possibilidade de as pessoas estarem cada vez mais conectadas e, assim, facilitar a vida dos cidadãos de Vitória. Vamos trabalhar cada vez mais por uma cidade inteligente”, disse.

Soluções para diminuir a desigualdade digital
Uma estrutura para acelerar o acesso à internet e diminuir a desigualdade digital

Espaços que oferecem ferramentas que estimule a interação e fomente a inclusão são importantes para diminuir a desigualdade. Para o sociólogo, a utilização de políticas públicas é essencial para facilitar o acesso à internet.

“Ampliar o acesso público à internet de qualidade e criar espaço na formação escolar para o conhecimento maior das ferramentas virtuais a favor dos menos favorecidos. As organizações comunitárias em forma de cooperativas e associações fortalecem coletivamente as condições e estimulam romper com as dificuldades impostas pela precária condição econômica e de formação escolar pouco qualificada” finalizou.

 

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