Matheus Metzker
Quem não o conhece, acredita que ele é bravo, exigente, “ogro” e sem limites no que fala. Contudo aqueles que procuram olhar além do estereótipo físico, notam a bondade e o amor presentes na sua essência. Emílio Fernandes Rocha, 53 anos, louco pela vida e apaixonado pela arte. Ele tem muito para compartilhar e mostrar sobre as variadas formas que encontra para viver. E eu descobri com orgulho cada uma dessas vivências.
Mais conhecido como Emílio Aceti, sobrenome da avó que utiliza desde a infância como assinatura das artes. Emílio é de Coronel Fabriciano, interior de Minas Gerais. Aos 6 anos, foi com a família para Colatina, norte do Espírito Santo, pois o pai, Hélio, recebeu uma oferta melhor de trabalho. Um ano depois fixou-se em Vitória. Por ter vivido um pouco em cada lugar, coloca-se pertencente aos dois estados.
Sou metade mineiro e capixaba por inteiro
Emílio Aceti

Nas terras mineiras, a fazenda era o principal refúgio de Emílio. Andar a cavalo e respirar o ar puro estão nas principais recordações do professor. Com quatro irmãos homens, nem sempre a paz reinava. O futebol em família rendia, às vezes, altas tensões. “A relação em casa era tranquila, saíamos na porrada direto”, lembra aos risos. Ele ainda declara amor ao time do Cruzeiro.
Caçula, mesmo em cidade grande, não se desgrudou do ambiente roceiro. Hoje, com a sogra dona de uma fazenda, pode sempre passear e fazer o que mais lhe faz lembrar da infância. Infância marcada por ser um menino levado. Mimado e com o aval médico de que não podia se estressar por ter vitiligo, Emílio fazia a festa e arranjava algumas encrencas.
Arte
Todo o dom artístico de Aceti o acompanha desde os 13 anos. A mãe e professora, Irene, sempre incentivou os desenhos e as pinturas que o jovem se colocava a fazer. Com um lápis na mão, nada fugia da observação fugaz do professor: até roupas dos colegas ganhava formato e cor nos papéis.
Por isso, fazer arte, para ele, que tem grafites em vários pontos da Grande Vitória, como na Fábrica de Ideias e muros da FAESA, é sempre um prazer.
É sempre um momento de se desligar do mundo. O mundo está ali e você está produzindo linguagem e dialogando com as pessoas. Um pouco de você está ali representado
Emílio Aceti

A arte de Emílio também está presente no carnaval. Amante desse evento, todo ano participa da pintura dos carros alegóricos da Escola de Samba Pega no Samba.

E por causa do apreço por esse mundo artístico, Emílio já conseguiu conhecer até obras pelo mundo afora. A Europa é sempre o lugar que gosta de adentrar para descobrir novas facetas do berço da cultura ocidental. Mas, quem pensa que se profissionalizar academicamente nessa paixão e viver dela foi fácil para ele, se engana.
Vivências
A dificuldade começou aos 20 e pouco anos de idade pelo preconceito que sofreu de alguns amigos e familiares. Em 1989, ano que tentava o vestibular da Ufes, quase desistiu de tentar Artes para seguir Arquitetura. Contudo não deixou ser influenciado e seguiu o que teria prazer e paixão de realizar. O diploma da graduação veio carregado de um currículo exemplar.
Emílio sempre foi muito ativo. Durante a vida acadêmica levava cavaletes para fazer retratos na Praça dos Namorados, fez confecção de brincos com corais da Ilha do Boi e participou de estágios e monitorias de desenho até montar a própria empresa de fabricação de telas. Tudo isso para ter o próprio dinheiro.
Com o empreendimento, veio a chance de ter uma estabilidade financeira. Só que ao trabalhar, Emílio não contava com um imprevisto: perder quase totalmente o dedo anelar ao sofrer um acidente com uma máquina. “Fiquei traumatizado e pensando que não poderia tocar violão. E que todo mundo iria ficar olhando para mim. Depois vi que não. Hoje, brinco e acho divertido”, conta da fatalidade de 17 anos atrás.
Por falar em violão, Emílio tem uma relação de amor com o instrumento. Ele adora tocar e cantar músicas de Zé Ramalho, Fagner e muita MPB. O professor curte também um bom Rock estilo Led Zeppelin, Pink Floyd, Titãs e outros mais.

Ele começou sendo professor dentro da própria Ufes com aulas de desenho durante um tempo aliando com um mestrado em Ciências da Arte na Universidade Fluminense, no Rio de Janeiro. Nesse mesmo período, surgiu a oportunidade de entrar na FAESA. Há 16 anos leciona na Instituição. Atualmente, divide o tempo dedicado ao Centro Universitário dando aulas também no segmento fundamental e médio para a escola Leonardo Da Vinci.
Por já ter vasta experiência, Emílio é crítico no trabalho dos alunos. Por isso o apelido “ogro” é comum, se tornou corriqueiro para o docente e é motivo de boas risadas. Enquanto conversávamos, surgiu uma ex-aluna dele falando: “esse professor é o “ogro” do melhor coração que conheço” e o abraçou. Prova de que apenas quem não o conhece coloca tal estereótipo como definição completa da personalidade de Aceti.
Família
Nem a arte vem na frente do maior amor de Emílio: uma família grande que formou e lhe faz feliz como marido, pai e avô. Daniela Abreu é casada com o professor há 25 anos. Eles se conheceram na escola técnica e foram para faculdade na mesma época. Ela no Jornalismo e ele adentrando no mundo das Artes… e o vínculo continuou…
O pessoal falava que não iria durar nada, mas passou tanto tempo e nunca separamos. Não sei se tem segredo, mas acho que é respeitar sempre, compartilhar sempre e não brigar
Emílio Aceti

Quanto de Daniela ser apresentadora de jornal, Emílio adora e acha muito interessante como as pessoas tratam ela e toda a família nas ruas. Mesmo até que os telespectadores o coloquem como “marido da Dani”, alcunha que, hoje, por vezes, substitui o próprio nome com orgulho.
Apesar de todo sucesso que o casal alcançou em cada trajetória, Emílio e Daniela prezam sempre pela simplicidade. No bairro Consolação, em Vitória, onde moram há décadas, em uma casa aconchegante, as visitas são sempre bem-vindas. “É um bairro muito simples, mas as pessoas são muito mais próximas. Todo mundo se ajuda”.
Essa união proporcionou três filhos: Helena de 17 anos, Davi e Elis de 11 e 7, respectivamente. A casa em Consolação sempre está cheia e conta ainda com a presença de dois gatinhos e um cachorro. E, há pouco tempo, de um sobrinho que considera neto por ter participado com Daniela da criação. São alegrias que se completam e fazem realmente a diferença na união de toda família.
Olhares
Emílio não gosta de fazer tantos planos, mas quer ver no agora uma infinita gama de oportunidades para se desfrutar.
Não existe no meu tempo era tão bom. O bom é o agora. Vivo o presente da melhor maneira possível. E acredito que o futuro vem, se pensar positivamente
Emílio Aceti
O professor também se move pelas lições acumuladas e que repassa até hoje às pessoas do convívio. Por isso, pretende em breve abdicar de alguns afazeres e orquestrar melhor o tempo para ter mais momentos com a família, se doar novamente às facetas da arte com mais intensidade e se dedicar às especializações e estudos que o fazem ir mais longe.
E assim é Emílio. Um homem de meio século que ainda possui anos gloriosos pela frente para serem vividos intensamente da maneira que gosta, preserva e cultiva. É apenas um “ogro” para muita gente. Só que o conheci em facetas que provam bem mais que isso: é acima de tudo um grande ser humano. Sem papas na língua, ele compartilha sentimentos de gentileza e respeito para com os outros que o deixam realmente mostrar quem és.
Prova final disso é que ao ser indagado por mim sobre como se define, o professor foi às lágrimas. Emoção que representou fielmente a verdade de uma fala repleta de características que o moldam.
Sou um “ogro” segundo os alunos. Mas, também, sou um cara bem-humorado que gosta da família, da arte e de curtir a vida. Tento ser feliz, rir das coisas ruins e sempre olhar para o lado positivo das coisas. Isso é para eu não sofrer e adoecer. Gosto do mundo. Gosto de traduzir o mundo. E como diz uma música “porque eu sou… sincero”
Emílio Aceti
