Olhares da Fé: Romaria das Pessoas com Deficiência

Acolhimento, respeito e direitos

Bruno Laurindo

Centenas de populares participaram da 13ª Romaria das Pessoas com Deficiência. A concentração começou na Praça Duque de Caxias, e com chegada na Igreja Nossa Senhora do Rosário, na Prainha, em Vila Velha. O evento, faz parte das comemorações da Festa de Nossa Senhora da Penha que este ano teve o título que homenageia as mulheres, “Eis aqui a serva do Senhor”, e reuniu fiéis, turistas e diversas instituições de atenção e apoio aos deficientes.

A imagem de Nossa Senhora da Penha chegou e os fiéis deram início a Romaria percorrendo as principais ruas do centro de Vila Velha, sentido Convento, com pedidos de oração, acolhimento, fraternidade, respeito e paz. Após saudação à Nossa Senhora da Penha, o Padre Carlos Pinto Barbosa, da Paróquia de Afonso Cláudio, celebrou a missa de encerramento.

Com uma faixa anunciando o nome da Romaria e cartazes com dizeres “Derrubando barreiras, garantindo direitos” ou “Autismo não se cura, se compreende” e até mesmo “Síndrome de Down ninguém fica para trás”, os pedidos de igualdade e inclusão por todo o percurso da Romaria deixou claro que, além de ser um ato de fé e devoção à Nossa Senhora da Penha, o momento também é um espaço para manifestação das lutas junto à sociedade, ao poder público e à igreja para que as pessoas com deficiências sejam acolhidas e respeitadas perante seus direitos.

Foto: Bruno Laurindo/ 13ª Procissão Fotográfica – FAESA

Frei Paulo Roberto Pereira, 52 anos, guardião do Convento da Penha, reforça que não é só a Romaria das Pessoas com Deficiência, mas todas as Romarias da Festa da Penha abrem espaço para manifestações das lutas junto à sociedade.

A Festa da Penha pode ter essa dimensão do cuidado, da conotação de dar visibilidade, normalmente, para grupos que não aparecem. E as pessoas com deficiência, infelizmente, sofrem com isso, o olhar da sociedade ainda não está movido por tanto cuidado assim como deveria. Nós, na medida do possível, vamos tentando adaptar aquilo que as leis nos concedem

Frei Paulo Robeto Pereira

Fé e confiança

Famílias inteiras compareceram a Romaria, idosos e crianças, acompanhadas pelos pais, estavam por todo o trajeto. De acordo com o Padre Carlos Pinto Barbosa, 54 anos, da Paróquia de Afonso Cláudio, todo ato de fé profundo é um ato de bem comum e ação social. “Não tem condição de a gente falar de oração, de fé, se você não liga para as ações, as necessidades, a devoção, a mística do povo, e faz esse link com as problemáticas sociais. Essa romaria expressa de forma muito bonita essas duas coisas: a fé e a confiança do povo, que tiram eles da acomodação e traz a visibilidade social, onde ali eles buscam políticas públicas, respeito, valorização e também a transformação da sociedade”, afirma o padre Carlos Pinto Barbosa

Professor de Sociedade, Cidadania e Diversidade da Centro Universitário FAESA, Vitor Nunes Rosa, 54 anos, lembra que existe dentro da Igreja Católica a doutrina social da Igreja.

A fé deve ser traduzida por gestos concretos, sobretudo em relação àquelas pessoas que mais precisam. Podemos dizer de uma forma muito clara que as Romarias também servem para defender causas sociais. Quando nós temos cadeirantes participando de uma Romaria, nos damos conta de que a própria Igreja está ampliando a voz das pessoas que de alguma forma são excluídas da sociedade

Vitor Nunes Rosa

Para o docente, que também administra as aulas de Ética e Pensamento Crítico e trabalhou no Departamento de Comunicação da Arquidiocese de Vitória, a Festa da Penha representa a luta da população por dias melhores. ” As Romarias da Festa da Penha têm esse caráter de ser um espaço de luta, manifestação e reivindicação, porque articula a fé e a ação. As expressões de fé da população são expressões de luta por melhores condições de vida para toda a sociedade, aplicando assim os princípios da doutrina social da Igreja”, disse Vitor.

Segundo a presidente da Associação dos Amigos do Convento da Penha (AACP), Arlette Uliana, 70, nem toda Romaria tem essa intenção. ” Algumas romarias, sim! Elas vêm com esse propósito de demostrar alguma demanda social. Mas acho o que realmente move mais as Romarias é o ato de fé à Nossa Senhora”, relata Arlette.

Para o romeiro Ricardo Chiabai, 56 anos, Secretário de Estado e Mobilidade Urbana e esteve presente em todas as Romarias das Pessoas com Deficiência, este é um momento de mostrar que as pessoas com deficiência estão na sociedade.

Elas existem! E a campanha deste ano achei muito bacana porque cobram políticas públicas voltadas para esse segmento da sociedade que muitas vezes é esquecida. Têm questões como emprego e renda, acessibilidade e saúde. A sociedade precisa saber que essas pessoas têm muita dificuldade ao acesso. É um momento de superação, de cobrar o direito que essas pessoas têm na sociedade e muitas vezes não são cumpridos

Ricardo Chiabai

Chiabai também lembra e lamenta a ausência do filho Pedro, de 18 anos, que tem paralisia cerebral.

O Pedrinho está em casa com a mãe este ano, por um problema de saúde ele não pode estar presente, mas eu vim aqui representar a nossa família e prestigiar à Nossa Senhora da Penha

Ricardo Chiabai

Superação

Desde a sua primeira edição, a Romaria das Pessoas com Deficiência vem lutando pelos direitos de igualdade junto à sociedade. Este ano não foi diferente, nem o sol escaldante dificultou a presença de fiéis e turistas que compareceram em maior número para caminharem, junto com a imagem de Nossa Senhora da Penha, pelas ruas do centro de Vila Velha.

Padre Carlos Pinto Barbosa lembra que houve um aumento de pessoas participando em relação à Romaria do ano passado. ” Cada ano a gente vai percebendo um aumento crescente. A romaria do ano passado, mesmo com chuva, tinha um número bom de pessoas. Este ano houve um número maior de participação. O tempo, em princípio, ajudou”.

O sacerdote ainda destaca a importância das instituições de atenção e apoio aos deficientes que, segundo ele, precisam a cada dia ser valorizadas, conhecidas e respeitadas pelo trabalho que vem fazendo.

É importante a gente ver a presença maciça da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAEs) e de outras organizações que há um tempo não participavam e agora estão participando. A cada ano descobrimos uma associação e instituição nova que começa aderir. É bonito que outras instituições, quase sempre de outros grupos religiosos e não católicos, vejam nesse espaço um lugar de inclusão social e de participação.

Padre Carlos Pinto Barbosa

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