Respeito e acolhimento em Noite Franciscana
Matheus Moraes
O Campinho do Convento da Penha foi o espaço escolhido para celebrar a Noite Franciscana. O evento marcou o sexto dia da Festa da Penha 2019 e teve como tema “Tributo Paz e Bem”. Nesta edição, além de apresentações de teatro, dança do ventre e escola de samba, um dos diferenciais da noite foi o encontro ecumênico promovido entre o professor e muçulmano Hadi Calefa, a mãe de santo Mãe Eliane de Ogum e o Frei Paulo Roberto Pereira, guardião do Convento.
Neste ano, a Noite Franciscana teve como foco a celebração dos 800 anos da visita de São Francisco de Assis ao Sultão Al-Malik-al Kamil. Esse fato é lembrado até hoje pela Ordem dos Franciscanos como um ato de promoção da paz e do bem, visto que a região visitada por São Francisco (cidade de Damieta, norte do Cairo) sofria com constantes guerras.
Dada a comemoração da noite ser a promoção da paz e do bem, a temática trabalhada foi a diversidade, e para o Ministro Provincial Frei César Külkamp o diálogo é uma das maiores necessidades dos tempos atuais. “Nós estamos num tempo de diálogo, de necessidade de diálogo, existem intolerâncias com manifestações culturais ou por posições pessoais, e por isso eu acho que ter esse encontro com a diversidade é sempre importante para a gente buscar unidade na pluralidade”, afirma Frei César.

Durante a noite aconteceram apresentações de dança do ventre e da escola de samba Mocidade Unida da Glória (MUG), que entrou com a imagem de Nossa Senhora da Penha ao final da cerimônia. Sobre a diversidade promovida pelo evento, o mestre de bateria da MUG, Carlos Magno Moreira, diz se identificar com o tema por ser uma prática constante na escola.
“Essa diversidade a gente tá muito acostumado dentro da quadra de escola de samba, principalmente na bateria. A gente se veste de forma padrão, calça branca, blusa da escola, então ali não existe rico, pobre, não existe mulher ou homem. Existem ritmistas, então a gente se identifica muito com o tema da festa que é a diversidade que é o que a gente vive o ano inteiro”, conta o mestre de bateria.
Ter esse encontro com a diversidade é sempre importante para a gente buscar unidade na pluralidade
Frei César Külkamp
E em relação ao convite para se apresentar na Festa da Penha, Carlos Magno diz se sentir muito à vontade na casa da padroeira dos capixabas. “Esse é o nosso segundo ano. Ano passado a gente fez parte e foi bem legal. É uma experiência que a gente vem com muito respeito, mas é o que eu digo, a gente vem trazer alegria na casa de Nossa Senhora das Alegrias. A gente se sente muito à vontade e vem com o maior prazer”, diz Carlos Magno.
Outra componente na bateria da MUG Cátia Carretta, diz que o primeiro dever é o sagrado. “A família cresceu na escola de samba, mas antes de ir para escola de samba, a gente vinha para igreja, a família toda vinha para igreja. Após a missa a gente tirava a roupa, colocava o uniforme da escola e ia pra escola de samba, primeiro a obrigação religiosa e depois o lazer”, explica Cátia.

Para a professora e bailarina Natália Piassi, o respeito à individualidade é fator importante para a promoção da paz. “Eu acho que a tolerância é um dos fatores que mais fazem com que a gente tenha paz, integração. Porque as pessoas pensam diferente, elas têm crenças diferentes, elas têm costumes diferentes, mas isso não quer dizer que elas tenham que brigar por conta disso. Cada um dentro da sua individualidade é perfeito como é”, afirma a professora. E sobre ser convidada para um evento religioso, Natália se sente agradecida pelo trabalho e pelo acolhimento visto que a dança não é uma prática presente nas igrejas católicas.
Eu me senti profundamente gratificada com tudo isso. Uma gratidão enorme para mim. Porque é uma oportunidade única e é muito singular, que a dança do ventre seja mostrada na religião e a dança do ventre tem a origem sagrada. Eu acho que foi um encontro muito maravilhoso e foi de grande importância para mim. Tá sendo realmente um trabalho e com muito respeito que a gente tá vindo apresentar e também sendo tratadas com muito respeito e isso não tem preço
Natália Piassi
Ordem Franciscana
Sempre com suas vestes marrons e carregando consigo a pobreza, a obediência e a castidade, os Franciscanos praticam a vivência do Evangelho em todas as suas ações e segundo Frei César Külkamp, a caridade não é a única prática. “A Ordem Franciscana não tem um carisma marcado pelo fazer, embora faça muitas coisas, mas ela tem um carisma de viver e encarnar o Evangelho de Jesus Cristo no nosso tempo, nas mais diferentes atividades, então, como o Evangelho é amor e caridade também existem muitas iniciativas de caridade, mas não é o único trabalho, os trabalhos são os mais diversos”, explica o frei.
A Ordem Franciscana também é muito conhecida pela abdicação dos bens materiais e pela escolha de uma vida humilde. Sobre essa prática o Frei César Külkamp salienta a importância de se fazer um controle entre vida material e pessoal. “A gente nunca abdica assim totalmente, os bens materiais estão na nossa vida, na vida de todas as pessoas mas eles não devem comandar a nossa vida, não devem ser o fim último da nossa existência, então o fim da nossa existência é Deus e a caridade também para com nossos irmãos e irmãs”, aponta o ministro provincial.
Os Franciscanos fazem parte da história da Igreja e até hoje possuem reconhecimento tanto dentro, quanto fora dela, mas para que esse serviço tenha início, e o devoto ou devota tome a iniciativa de se inserir na Ordem, é necessário uma mudança na própria casa. O que não foi tão fácil para Cátia Carretta, que além de compor a bateria da MUG é mãe do Frei Felipe Carretta. “É uma bênção na nossa vida. Foi um trabalho diário aceitar, porque nós não temos essa cultura de criar filho para ser um seminarista, por mais que a gente fale e reze para as vocações, porque nós precisamos de sacerdotes nas igrejas, mas o meu filho eu nunca pensei”, diz emocionada a mãe do Frei Felipe.
Foto principal: Foto: Zanete Dadalto / 13ª Procissão Fotográfica – FAESA