Thalita Mathias
Os casos de violência doméstica são recorrentes no Estado do Espírito Santo. Ainda no primeiro trimestre de 2019 o número de mulheres que se revelaram vítimas dessa situação é alto. Foram registrados, somente no período de janeiro a março deste ano, 280 queixas de agressões contra mulheres na Grande Vitória. Cariacica, com 72 queixas, é a cidade com o maior número de ocorrências. Os dados são da Secretária Estadual de Segurança Pública (Sesp).
A criação de delegacias especializadas no atendimento em casos de violência contra mulheres e a maior divulgação sobre o assunto faz com que vítimas dessa situação se sintam encorajadas a fazerem a denúncia contra os agressores. A criação da Lei Maria da Penha, decretada em agosto de 2006, também foi um importante suporte para que as denúncias fossem feitas. A delegada da delegacia da Polícia Civil e Plantão Especializado da Mulher, Silvana Paula Soeiro de Castro, falou sobre o aumento no número de denúncias feitas:
O atendimento da polícia com relação às mulheres se fortaleceu muito em 2018 com a criação da divisão própria para o assunto. Antigamente, não havia tantas operações, nem havia toda essa publicidade em torno deste trabalho e as mulheres não sabiam o que fazer. Com todo esse fortalecimento da divisão e da polícia, as mulheres tiveram mais voz e passaram a denunciar mais
Silvana Paula Soeiro de Castro

A agressão psicológica também faz parte da realidade de muitas mulheres. Os xingamentos, as ameaças de morte ou de abandono são os primeiros casos de agressões que uma mulher vítima da violência vivencia. Quando há marcas físicas das agressões, elas já vem acompanhadas das psicológicas.
A violência psicológica tira a autoestima da mulher e a faz não querer crescer na vida por se achar incapaz
Silvana Paula Soeiro de Castro
Vítimas de agressão
Mesmo com o crescente número de mulheres que criaram coragem para denunciar as agressões, ainda há um bloqueio por parte de uma parcela das vítimas causado pelo medo de prestarem queixas contra os companheiros. Vítima de violência contra a mulher, a estudante de 22 anos, M.C.M., que preferiu não se identificar, viveu um pesadelo no início do ano quando o ex-parceiro a agrediu física e psicologicamente.
Ele dizia que eu não era uma menina digna para ter um relacionamento com ele e que eu não me encaixava no nível que ele queria. A primeira vez que ele me agrediu foi quando me puxou a força pelo braço e ficou a marca da mão dele
M.C.M.
Além das agressões, a tentativa de estupro também foi uma realidade vivenciada pela estudante. “Aceitei me encontrar com ele novamente, mas para dar um ponto final na história. Ele surtou. Virou para mim e começou a dizer que duvidava que eu iria sentir tesão em outro cara como eu sentia por ele. Tentou colocar a mão dele a força nas minhas partes íntimas, falando que eu estava molhada e que ele estava excitado por mim”, relatou a estudante.
Forçou colocar a mão por dentro da calça. Tentei sair do carro, mas ele não deixou. Trancou a porta, segurou meu rosto e me beijou a força
M.C.M.
Segundo M.C.M., a denúncia não foi feita por medo de não acreditarem na versão dos fatos. A ausência de testemunhas, provas concretas das agressões, o fato de o agressor ser estudante de direito, rico e com os pais diretamente ligados com a justiça foram os principais motivos para que a queixa não fosse aberta.

Outra vítima da violência foi a também estudante K.V.T., 24, que sofreu agressões físicas do antigo namorado. Em 2016, após seis anos de namoro e quando ainda estava em um relacionamento com o agressor, foi que se deu o primeiro ataque no caminho de casa ao saírem de uma balada. Discussão e gritaria entre o casal foi intensificada pelo excesso de bebida.
Ele deu um puxão no meu cabelo e me imprensou contra a parede. Gritei para ele me soltar. Quando eu virei as costas, ele me deu chute. Fiquei em choque por que nunca esperei nada disso dele, ainda mais depois de tantos anos de namoro
K.V.T.
