Matheus Metzker e Sabrina Heilbuth
A melhor maneira de conhecer e entender uma cultura diferente é viajando e explorando as diversas riquezas que o local tem para oferecer. Mas, quando a permanência ultrapassa de uma pequena visita e ganha mais tempo devido a própria identificação cultural do indivíduo ou mesmo o desejo de moradia fixa por motivos de trabalho, estudo ou construção de laços familiares, todo o processo muda. Cria-se uma nova raiz, que é chamada de imigração.
Na primeira reportagem multimídia da série especial “Imigrantes no ES”, você irá entender sobre as particularidades daqueles optam por morar em outras regiões do mundo e que decidem vivenciar novas culturas. Mauro Bini, italiano, é um dos vários exemplos de imigrantes que hoje consideram o Brasil um novo lar e que tem sua história aqui retratada.
Os movimentos migratórios enriquecem a miscigenação de um país e apesar de muitas vezes serem ricos ou até benéficos, nem sempre acontecem de maneira espontânea. Diferente dos imigrantes, a população que é forçada a deixar o país de origem por quesitos culturais como a política, economia, religião ou outras situações precárias são conhecidos como refugiados. Essas pessoas buscam em novas regiões uma forma de escapar das próprias realidades sociais.
Em relação aos imigrantes no Brasil, uma pesquisa feita pelo Relatório Anual do Observatório das Migrações Internacionais – OBMigra 2019, mostrou que entre 2010 e 2018 foram registrados 774,2 mil novas imigrações, sendo os haitianos como principal nacionalidade no País. Em 2018, os venezuelanos lideraram o ranking de registros. Bolivianos, colombianos, argentinos, chineses e peruanos também tiveram destaque.

História
O historiador e especialista em Educação de Direitos Humanos Gean Jaccoud, 32, analisa a questão migratória desde os primórdios da Idade Antiga, quando o povo Ebreu, originado do atual Estado de Israel, migrou para diversas regiões em busca de melhor qualidade de vida. “A história é cheia de exemplos de vários desses movimentos ao longo dos anos”.
Na história moderna e contemporânea, o professor afirma que existe um grande número de imigrações involuntárias pelo mundo. Com o aumento de perseguições políticas e religiosas, uma preocupação maior de fuga da população tem se instalado e tornado o fato mais frequente.

Os grandes fluxos migratórios se dão por conflitos internos. A escravidão foi um grande exemplo de imigração não espontânea
Gean Jaccoud
Já nos processos espontâneos de vinda ao Brasil, os imigrantes têm buscado uma estabilidade financeira e uma melhor qualidade de vida, impulsionando o mercado econômico do País. De acordo com Gean, novos dados apontam que se não fosse pelos imigrantes, a economia global cresceria cerca de 2 bilhões a menos.
O professor finaliza explicando que os imigrantes em busca de trabalho trazem benefícios para os próprios brasileiros, além de contribuir para o avanço global e mercadológico no mundo. “Por predisposição a algum trabalho que muitos dos nativos não querem realizar, eles liberam a população para a atuação em outras áreas e qualificações”, relata Gean.
Globalização
O fator econômico é o principal impulsionador quando se trata dos motivos para uma imigração. Contudo é possível notar que existem outras diversas causas para conhecer e estabelecer uma nova vida em outro país, como manter interações com pessoas de origem estrangeira, novas culturas, idiomas e costumes.
Para a socióloga Marcia Correia, 46, a globalização acrescenta uma nova vontade de ordem pessoal para a chegada de estrangeiros no país. “Em tempos de avanços tecnológicos, quando as pessoas conhecem outros países por critérios virtuais, elas passam a ter uma curiosidade para conhecer e fixar residência lá”, salienta Marcia.
Novo lar
Móveis rústicos e simples. Nenhum quadro, enfeite ou plantas. Taças de vinho espalhadas pela mesa da cozinha e as luzes da sala de estar apagadas. A varanda enorme, mas com apenas duas cadeiras e uma mesa de centro ocupando nem metade do espaço. Tudo simples, mas organizado.
Você já percebeu que essa é uma casa que só moram homens, nenhum toque feminino
Mauro Bini
Mauro Bini, 57, italiano, e como única companhia de moradia o filho Daniel Bini, 27, ambos são residentes do apartamento descrito. Com o sotaque carregado, ele é cheio de amor pelo País que escolheu viver há mais de 20 anos: o Brasil.

Seguindo os passos do pai, de mudanças constantes pelo trabalho, Mauro veio ao País em 1991 por uma oferta de trabalho como gerente de pedreiras em Salvador. Na época, na área em que trabalhava com exportação de granito, veio com a esposa grávida do primeiro filho. Sentindo-se sempre muito bem acolhido pelos brasileiros, permaneceu alguns anos até o fechamento da pedreira.
Essa empresa de extração de granito não vingou, por isso decidiu mudar para Cachoeiro de Itapemirim, interior do Espírito Santo, onde o empreendimento também não deu certo. Novamente, nova mudança. Agora, para Vitória. Não mais casado e pai da segunda filha, Solange, que, atualmente, mora com a mãe em Miami, EUA. Mais tarde, entrando em uma nova relação amorosa com uma brasileira, na qual não mantém mais uma união, Mauro teve um terceiro filho.
Após outras experiências e ficando desempregado, resolveu se aventurar em uma nova profissão: trabalhar como motorista em uma empresa de aplicativo de carro particular. “Foi incrível. Vivi e aprendi muitas coisas, mas não me identifiquei. Até que pagava as contas, mas permaneci só até achar uma nova área”, conta Mauro.

Hoje, diretor dos representantes de uma marca de azeite por todo Brasil, Mauro se encontrou e pretende continuar no ramo. Ramo esse que conta ter sido pioneiro, mas deixou de lado para insistir nas pedreiras e no granito. “Antes eu era o dono e meu atual chefe fazia o trabalho de vendas. Hoje, é o contrário, mas não me arrependo. Naquela época eu vivia pior do que hoje. Era muito estresse”, comenta o italiano.
Estabilizado financeiramente e com os laços sociais definidos, Mauro não pretende deixar o novo lar tão cedo. Mesmo não dando certeza da permanência para sempre, deixa claro que o Brasil é um local especial e que não conseguiria largar com facilidade. “O Brasil é tipo uma doença, que deixa dentro uma saudade e você não consegue abandonar”, diz o imigrante.
Caracterizando os brasileiros como pessoas alegres e sempre dispostos a um sorriso, o imigrante diz sentir um carinho imenso por toda cultura. Além disso, reforça as paixões especiais como a feijoada e o churrasco brasileiro que, para ele, são únicos.
Com espírito brasileiro e o coração capixaba, ele recebe as pessoas na casa dele de portas abertas. Na casa que ele denomina de simples e “masculina”, o italiano faz questão de oferecer um licor feito por ele mesmo a todas as visitas que por ali passam. Pelos benefícios que a imigração proporciona pelo mundo, hoje, Mauro pode chamar o Brasil de um novo lar.

“IMIGRANTES NO ES”
FOTOGRAFIA DE DESTAQUE
Sabrina Heilbuth
FOTOGRAFIA DA ARTE
Zanete Dadalto
EDIÇÃO DE ARTE E FOTOGRAFIA
Luisa Nassur / LACOS
CONTEÚDO AUDIOVISUAL
Acácio Rezende
Isabella Arruda
Mylena Valim
EDIÇÃO DE VÍDEO
Sabrina Heilbuth
ORIENTAÇÃO
Valmir Matiazzi
FINALIZAÇÃO
Matheus Metzker
Parabéns, que continua trazendo para nós história que acontece no nosso Brasil, assim trazendo conhecimentos para todos.
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