Matheus Metzker e Sabrina Heilbuth
Países com boa qualidade econômica e facilidade em proporcionar melhor estabilidade financeira para a população são os principais pioneiros de transições migratórias espontâneas. Em busca de qualidade de vida satisfatória, imigrantes tendem a procurar nessas mudanças locais novos empregos ou melhores formas de viver financeiramente. Por isso, muitas regiões consideradas de baixo crescimento econômico não recebem esse movimento de imigração com tanta frequência como os lugares mais desenvolvidos.
Na quarta reportagem multimídia da série especial “Imigrantes no ES”, o tema se pauta em uma das maiores dificuldades de adaptação encontrada pela população que decide morar no Brasil: o equilíbrio financeiro. Nela, você pode conferir as histórias do venezuelano Brayan e do russo Denis. Antes, leia as três primeiras reportagens: “Um novo lugar para chamar de casa”, “O acolhimento capixaba”, e “Cultura capixaba é abraçada e valorizada por imigrantes”.
No Brasil há grande interesse de imigração por diferentes povos que escolhem o território como forma de investir e crescer profissionalmente em diversas áreas de atuação. Esse movimento acontece mesmo o Brasil não sendo reconhecido como um dos destinos mais desejados na procura dessa estabilidade econômica.
Prova disso é a taxa de crescimento do Brasil em 2019 que está prevista para apenas 1,5%, como explica a economista Neide Vargas, 57. Ela argumenta que a dificuldade de estabilização para imigrantes com melhores condições financeiras é quase nula, já para os de baixa-renda é diferente.
Não é fácil encontrar oportunidades em um mercado de trabalho com desemprego, nível de precarização e não formalização elevados
Neide Vargas
Neide diz ainda que o crescimento da economia capixaba depende muito do comércio exterior. Por isso, é oportuno vir para a região observando os movimentos de importação e exportação no Estado que, se favoráveis, podem garantir um maior volume no número de empregos.
Em se tratando ainda de empregabilidade, segundo o Relatório Anual 2019 do Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), em 2018 foram emitidas 68.986 Carteiras de Trabalho e Previdência Social a imigrantes no Brasil. Dessas, 36.384 foram para refugiados; 20.619 para permanentes e 687, fronteiriço. O percentual de emissão nesse ano representou quase o dobro em relação à 2017, que teve 35.715 de carteiras emitidas. Em ambos anos, imigrantes da Venezuela, República do Haiti e Cuba foram os que mais entraram com a documentação para tentarem entrar no mercado de trabalho.

Processo de estabilidade
O estudante de Medicina e venezuelano Brayan Oliveros, 28 anos, veio para o Brasil em 2012 por uma paixão. O garoto, na época com 20 anos, se apaixonou em um festival de música e veio morar com o antigo namorado. Mesmo com o relacionamento chegando ao fim, Brayan deu uma chance para o País e permaneceu, mas a grande dificuldade começou no processo de estabilização. Processo esse que não foi fácil.

Desde o término, Brayan passou por diversas repúblicas estudantis até a que se encontra atualmente, dividindo o apartamento eventualmente para acomodações passageiras. O jovem comenta que as dificuldades do processo de estabilização financeira foram muitas e que já chegou a ter apenas a roupa do corpo como patrimônio.
As experiências profissionais foram diversas e ajudaram o venezuelano a se fortalecer nas vivências do dia a dia. “Iniciei como garçom quando ainda nem falava o português. Cheguei a vender shakes nutricionais e também a trabalhar em um local que fazia esfirra”, diz o imigrante. Hoje, Brayan atua no Núcleo de Acessibilidade da Faculdade em que estuda. Esse setor proporciona estratégias para garantir auxílio e permanência de alunos, professores e técnicos com algum tipo de deficiência dentro na instituição.
Sobre as experiências e todo processo de adaptação, o jovem não se arrepende e diz estar feliz com a escolha feita, mesmo não estando totalmente satisfeito com as questões econômicas, políticas e sociais do Brasil.“Você vai amadurecendo e criando responsabilidades. Cheguei muito jovem, mas me encontrei aqui no Espírito Santo”, afirma.
Planejamento
Para o russo e professor de yoga e meditação Denis Karenkin, 45, a adaptação no País não foi tão difícil por ter planejado antecipadamente o que faria antes de chegar ao Brasil. Denis conheceu a esposa Milena quando morava em Nova York. Ele veio com ela, que é capixaba, para o Espírito Santo em 2011. A união rendeu mais uma capixaba, a Martina.
Karenkin conta que começou dando aulas de inglês até conseguir falar melhor o português, processo que o ajudou a se manter no ramo que atua hoje. “O mercado está crescendo devagar. É uma área relativamente nova. Às vezes, sinto resistência das pessoas em conhecer”, comenta Denis.

Uma situação marcante para o russo foi presenciar as passeatas na Terceira Ponte (A ponte liga o município de Vitória ao município de Vila Velha) no ano de 2013. Na época, revela ter tido a sensação de estar fazendo parte da nova história do Brasil. A única tristeza para ele é que, mesmo depois do acontecimento, ainda presencia tantas falhas no sistema político e econômico do País.
É uma pena. Essa população tão criativa, talentosa e trabalhadora merecia muito mais
Denis Karenkin
“IMIGRANTES NO ES”
FOTOGRAFIA DE DESTAQUE
Arquivo Pessoal de Brayan Oliveros
FOTOGRAFIA DA ARTE
Zanete Dadalto
EDIÇÃO DE ARTE E FOTOGRAFIA
Luisa Nassur / LACOS
CONTEÚDO AUDIOVISUAL
Acácio Rezende
Isabella Arruda
Mylena Valim
EDIÇÃO DE VÍDEO
Sabrina Heilbuth
ORIENTAÇÃO
Valmir Matiazzi
FINALIZAÇÃO
Matheus Metzker