Victoria Singui
Percebo que a criatividade vem sofrendo o mesmo que os hambúrgueres, brigadeiros e até o bom e velho “dogão da praça”: gourmetização. Estabeleceu-se o conceito de que criatividade é ou tem que ser algo mirabolante, como um dom enviado por Deus aos seus favoritos. Mas eis a surpresa: todo ser humano é criativo. Sim, você é criativo, mesmo que seus filhos se chamem Enzo e Valentina.
Quando falamos em jornalismo, parece impossível ser criativo. Isso porque responder as perguntas do lead soa como “acomodação” e foge a ideia geral de que ser criativo é ser totalmente extraordinário. A criatividade em sua verdadeira essência está, na verdade, em procurar soluções para um problema. Claro que um texto jornalístico que sai do convencional parece ser muito mais criativo. Entretanto, se estamos falando em resolver problemas e lidar com limitações, qualquer jornalista é criativo.
A criatividade aparece nos momentos mais caóticos do cotidiano da redação. O que fazer quando uma fonte extremamente necessária não responde? Como dar um enfoque diferente para uma pauta de natal? Não espere respostas nem minhas nem do seu chefe. Nas definições atuais, ser criativo é lidar com o “você que lute”.

Mas atenção, criar uma ideia não é como fazer macarrão instantâneo, pode durar muito mais que três minutos. Logo, se eu fosse usar uma metáfora gastronômica — talvez eu esteja usando bastante esse tipo neste texto — diria que criar uma ideia é como preparar um angu ou uma polenta, dependendo da sua região… ou sopa de fubá… ou qualquer nome que exista para fubá com água.
A primeira etapa do processo criativo é a “identificação”, descobrir qual é o problema. Nesse caso é unir o fubá cru com água e fazer isso parecer ingerível. Em seguida temos a etapa de “preparação”, é hora de pesquisar e ver referências sobre o assunto, descobrir quais ingredientes usar. Para fazer um angu de qualidade você precisará de mais do que apenas o fubá e a água, sal e alho farão toda a diferença no gosto, há quem se arrisque até em colocar queijo ou outros temperos. Depois de unir esses conhecimentos, é a vez de dar uma pausa para organizar as ideias na fase chamada de “incubação”. Essa é a hora de “deixar o angu engrossar”, você já colocou os ingredientes na panela mas eles não vão magicamente se transformarem no angu, é preciso deixá-los cozinhar.
Na fase de “aquecimento” as primeiras ideias começam a aparecer. Por mais que o caldo pareça estar engrossando, ainda não pode ser considerado angu mas está chegando ao ponto. Quando você finalmente forma uma ideia está no processo de “iluminação” e o seu angu está no ponto. Na “elaboração” é preciso testar a viabilidade da ideia, será que seu angu chegou mesmo no ponto? Ele parece grosso o suficiente? Por fim, na fase de “verificação” é quando você vai saber se obteve êxito na ideia, ou, se o angu está gostoso ou não. Mas lembre-se nem toda receita dá certo e nem todo tempero agrada a todos. Então jornalista, não descredibilize seu angu.
>>> Esse texto faz parte de uma série de produções opinativas sobre Jornalismo e Criatividade feitas por estudantes do 8º período de Jornalismo da FAESA Centro Universitário. As produções tiveram a orientação do professor Victor Mazzei dentro da disciplina de Criatividade e Processos Criativos.
Que matéria sensacional❤️❤️
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Victorinha, que texto mais “gostoso” de ler. Adorei. Sua professora de texto lá do início da sua jornada ficou toda orgulhosa aqui.
Parabéns.
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